quinta-feira, 23 de outubro de 2008

#1

- Delicioso! - exclama o seu silêncio enquanto degusta uma massa bem preparada por ele minutos antes. Mastiga de olhos fechados ao som de um leve e animado samba carioca.
- Mas o quê...?!!! - suas sombrancelhas se fecham ao fitar um pequenino pedaço da massa que acabara de escapulir do prato à mesa, sujando de molho a toalha.
Ele captura o macarrão fugitivo da ordem com os dedos em pinça e reflete um segundo. Esboça uma breve indecisão logo interrompida pelo rompante que foi levantar-se, cruzar a sala, adentrar a cozinha e despejar na lixeira do canto a massa rebelde.
Na volta depara-se com um prato e talheres sujos sobre a bancada e, ao virar-se para levá-los à pia, repara na imundície que está o fogão. Eis que o nosso amigo logo logo se vê limpando toda aquela bagunça sem poupar caprichos. E se regozija com o espírito doméstico que de repente habita o seu ser!

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Quando se senta novamente defronte ao prato de macarrão já sabe qual será o desfecho daquele ato. A fúria que sente ao provar o quão fria está a comida o faz arremessar a louça recheada de molho na parede que se tinge de um vermelho caótico.
Mas, antes que estourasse os dedos do pé com um chute no móvel de mogno, algo nele se surpreende e o faz congelar diante do desenho que escorria quente pela parede. Ele enxerga formas que trazem à tona lembranças inventadas da infância e cheiros fortes de mulheres conhecidas e estrangeiras.

Sentou e chorou sozinho no meio da sala...

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Na Linha do Tempo


Um grevista em 1934





Um grevista hoje





Deslocamentos urbanos


Pobre aristocrata!
Que pode ele com seu status e honra feudais
em meio à efemeridade máxima da modernidade?
Não raro me sinto assim
numa quarta-feira à
tarde.

Sem licença


Bom,
Companheiros do Ócio,

Valendo-me da oportunidade dada pelos tempos modernos, venho territorializar-me nesse sítio suspenso entre os sentidos sem pedir licença.



Por muito essa possibilidade nem me ocorreu. Por outro tanto hesitei. Cedo ou tarde a vontade dá luz ao ato.



Só espero que esse naco metafórico do impalpável, cedo ou tarde, morra junto comigo.